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Malta e Gozo

A sul de Sicília, encontra-se o pequeno arquipélago maltês. A localização estratégica captou a atenção de muitas civilizações e foi habitado por fenícios, gregos, cartaginenses, romanos, bizantinos, árabes, Cavaleiros da Ordem de São João, franceses e, finalmente, britânicos.


Após um passado agitado por disputas, cercos e conquistas, as ilhas desfrutam de tempos relaxados, embaladas pelo mar Mediterrâneo.


No início do ano, a Autoridade Turística de Malta convidou-me para acompanhar dez agentes de viagens espanhóis numa visita às ilhas. Prepararam-nos um roteiro exímio para três dias.


Vista para as Três Cidades desde os jardins Upper Barrakka, Malta.

Vista para as Três Cidades desde os jardins Upper Barrakka.

Piscina exterior do hotel Corinthia Palace.


A Audrey, a nossa incansável guia, esperava-nos no lobby do hotel Corinthia Palace. Feitas as apresentações, conduziu-nos através dos mais de 7.000 anos de história do arquipélago ao longo do fim de semana.


O primeiro dia estava destinado a La Valletta, a capital de Malta.


Começámos por visitar os jardins Upper Barrakka, que nos proporcionaram a melhor vista das Três Cidades – Senglea, Birgu e Cospicua – que se encontram na outra margem da baía. Foram o primeiro assentamento dos Cavaleiros da Ordem de São João na ilha.


Estes Cavaleiros pertenciam às famílias da nobreza europeia e, a seguir à Primeira Cruzada, fundaram uma irmandade religiosa para ajudar os peregrinos que chegavam à Terra Santa. Com o crescimento do Império Otomano, a Ordem adquiriu um carácter militar. Depois de sangrentas batalhas, perderam as bases tanto em Jerusalém como na ilha Rodes, na Grécia, e, em 1530, o Imperador Carlos V cedeu-lhes Malta para sua proteção e governação a troco de um pagamento simbólico: um falcão por ano.


Governaram Malta durante trezentos anos e a sua herança atravessou-se no nosso caminho enquanto descobríamos La Valletta. A atual capital foi construída depois do Grande Cerco do Império Otomano de 1565 em que os Cavaleiros, em menor número, saíram vitoriosos.


As típicas varandas coloridas da Rua da República, La Valleta, Malta.

As típicas varandas da Rua da República, La Valleta.

Fachada do albergue de Castela e Portugal, como os respetivos escudos no topo do edifício, La Valletta, Malta.

Albergue de Castela e Portugal, como os respetivos escudos no topo do edifício.


Após esta extensa, mas necessária contextualização, seguimos para o antigo Albergue de Castela e Portugal. Pela proximidade linguística, os Cavaleiros destes dois países residiam no mesmo palácio. Bem no alto da fachada, encontra-se o escudo de Portugal, com as suas cinco quinas, ao lado do brasão de Castela.


Um orgulho nacionalista encheu-me o peito e comecei a procurar referências portuguesas em cada monumento.


Quando a Audrey se apercebeu de que eu partilhava o meu apelido com um dos grão-mestres da Ordem, o célebre Pinto da Fonseca, natural de Lamego, não deixou escapar um único detalhe sobre o seu importante legado.


La Valletta impressiona pela concentração da riqueza histórica e um profundo respeito pela tradição permeia a cidade.


Contudo, depois de ser fortemente bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial, foi necessário reconstruir alguns dos monumentos mais emblemáticos, como a Ópera e o Novo Parlamento. O arquiteto italiano Renzo Piano foi o responsável por trazer modernidade e controvérsia à principal via pedonal da capital.


Atravessámos a Rua da República em direção ao seguinte ponto turístico. A cor mel das pedras calcárias das construções reflete a luz clara do sol e contrasta com as varandas coloridas e rendilhadas, alusivas aos moucharabiehs do mundo islâmico.


Exterior da Co-Catedral de São João.

Altar mor da co-catedral de São João, La Valletta, Malta

O rico interior da Co-Catedral.


Diz-se que em Malta há 365 igrejas – "one for every day of the year", no entanto, é a Co-catedral de São João que absorve todo o protagonismo.


A segunda catedral de Malta (a primeira encontra-se na antiga capital, Mdina) esconde valiosíssimos tesouros no seu interior, por isso a fachada é discreta e austera, para não atrair possíveis invasores.


Decorada até à extenuação, a Co-catedral vive do horror vacui e provoca sensações contrárias. Paz, riqueza, saturação e espiritualidade em doses iguais. Os mármores trabalhados do solo, a talha dourada dos altares, os frescos que decoram os pórticos e os tetos sussurram histórias de conquistas e fé.


A última paragem antes do almoço foi no Palácio do Grão-Mestre, um museu com uma importante coleção de armamento, pinturas de grandes dimensões e um enorme retrato de Pinto da Fonseca, o meu tetravô como a Audrey insistia. É um dos edifícios mais antigos da cidade.


Luzzu, os barcos de pesca típicos de Marsaxlokk, Malta

Luzzu, os barcos de pesca típicos de Marsaxlokk.

A aldeia Marsaxlokk.

Pormenor do olho de Osíris que se encontra na proa dos barcos de pesca típicos de Marsaxlokk, Malta

O olho de Osíris que se encontra na proa dos barcos.

Pescadores a desenredar as redes depois de um dia de trabalho em Marsaxlokk, Malta.

Pescadores a desenredar as redes depois de um dia de trabalho.

Depois de um almoço leve, em que provámos os tradicionais pastizzi, os pastéis de massa folhada e puré de ervilhas e ricota, seguimos viagem até Marsaxlokk.


A paisagem era árida e os catos em flor recortavam os caminhos à nossa passagem.


A pequena aldeia de pescadores em forma de meia-lua tem um encanto especial.


Os tradicionais barcos de pesca luzzu decoram as águas transparentes do porto com as suas cores garridas e forma única. De cada lado da proa, está representado um olho de Osíris, o deus egípcio que protege os pescadores no mar e afugenta os maus espíritos. É um testemunho da presença dos fenícios, uma das primeiras civilizações a habitar a ilha. 


Saltando um pouco o programa do dia, implorámos à Audrey para nos levar a Mdina. A antiga capital de Malta esconde segredos dentro das suas muralhas. Enquanto ouvíamos a história da cidade, provámos o imqaret, um pastel frito com tâmaras de influência árabe, que se vende nas barraquinhas de rua.


O portão de acesso a Mdina, adornado com um brasão e inscrições em latim, alcança-se através de uma ponte em arco suspensa sobre um fosso. Os becos medievais, totalmente preservados, curvam ligeiramente para a direita ou para a esquerda, um detalhe defensivo que evitava que as flechas dos atacantes, que voavam em linha reta, atingissem o alvo.


As casas rasteirinhas têm portas e janelas vermelhas, verdes e azuis com puxadores em forma de criaturas místicas que atraem boa sorte para os habitantes.


A nossa guia ficou especialmente entusiasmada com esta visita, indicando todos os locais onde foram gravadas cenas de "Game of Thrones" e confessou-nos que, nos tempos livres, é figurante nas diversas gravações cinematográficas que exibem Malta como cenário: "Tróia", "Gladiador", "Jurassic World" e ela ora interpreta uma dothraki ao lado de Khaleesi, ora se veste à século XIX e se passeia pelas ruas de "Paris", atrás do Napoleão de Joaquin Fenix.


Catedral de Mdina.

Fachada de uma casa em pedra típica de Mdina, Malta.

Fachada de uma casa em pedra típica de Mdina.


No dia seguinte, fomos até à ponta ocidental da ilha para apanhar um ferry que nos transportou até Gozo. A segunda ilha do arquipélago tem um charme autêntico e discreto.


Visitámos os misteriosos templos neolíticos de Ġgantija, fotografámos uma das paisagens mais características da ilha, as salinas Qbajjar que compõem um tabuleiro de xadrez entre o azul do mar e branco do sal.


Na Tal-Massar Winery, fizemos uma prova de vinhos, enquanto Anthony, o mestre de cerimónia e a terceira geração à frente do negócio de família, nos explicava todo o processo de elaboração de vinho na ilha. Para acompanhar a prova, degustámos o creme para barrar de tomate seco ao sol e alcaparras mouras e o tradicional queijo de leite de ovelha, o Ġbejniet.


Almoçámos um banquete de peixe fresco a contemplar as águas suaves do Mediterrâneo e finalizámos a visita a Gozo com uma paragem na capital, Rabat. As imponentes muralhas que outrora protegiam a população contra os ataques de corsários berberes e sarracenos, hoje recebem os animados turistas à procura do melhor miradouro da ilha.


Ao fim do dia, no regresso, o vento levantava a poeira e a paisagem perdia os contornos, tornando-se etérea e dourada com o pôr-do-sol.


Chegada a Gozo.

Almoço junto ao mar no restaurante Il-Kartell, em Gozo, Malta.

Almoço junto ao mar no restaurante Il-Kartell.

Artesanato tradicional de Rabat, Gozo, Malta.

Artesanato tradicional de Rabat.

Vista do cimo das muralhas de Rabat, Gozo, Malta.

Vista do cimo das muralhas de Rabat.


Além das influências externas de Itália, Norte de África e Reino Unido, Malta tem uma forte identidade nacional que vale a pena descobrir. Um fim de semana não foi suficiente. 


Regressarei para visitar praias rochosas em falésias abruptas com água quente e cristalina, descansar em Comino, a ilha deserta e paradisíaca, e desvendar mais lendas e tradições ancestrais.


 

Como chegar | How to get there

A Ryanair tem voos diretos desde Lisboa e Porto para Malta. Desde Madrid, voámos com a KM Malta Airlines.

 

Como se deslocar | How to move around

Alugar um carro é imprescindível para visitar a ilha.


Para visitar Gozo, apanhámos um ferry desde Cirkewwa, o extremo mais a norte de Malta. A viagem dura 25 minutos e o bilhete custa 4,60€ ida e volta.


Também é possível apanhar o ferry express desde La Valletta, a viagem tem a duração de 45 minutos.

 

Onde dormir | Where to sleep

Corinthia Palace um hotel de cinco estrelas no centro da ilha. Os quartos são espaçosos e muito cómodos. A atenção ao detalhe é exímia. Visitámos o spa, a piscina interior, o ginásio e os vários restaurantes. O restaurante Bahia tem uma estrela Michelin. No pequeno-almoço, os pratos quentes pedem-se à carta, uma verdadeira perdição. www.corinthia.com/en-gb/palace/


Barceló Fortina visitámos este hotel de cinco estrelas situado no passeio marítimo de Sliema. A maioria dos quartos têm uma ampla varanda com vista para o mar. www.barcelo.com/es-es/barcelo-fortina-malta/ 


Hotel Mistral by Meliá em St. Julian's. Um hotel de três estrelas que acaba de abrir. Os quartos são acolhedores. Uma opção excelente para ficar no centro da vida noturna da ilha. www.melia.com/en/hotels/malta/st-julians/hotel-mistral-st-julians-affiliated-by-melia 

 

Onde comer | Where to eat

Talbot & Bons a cinco minutos a pé do aeroporto, este restaurante foi ideal para uma refeição rápida. No menu há tapas, comida italiana, nachos, hambúrgueres, wraps e saladas. bistro.talbotbons.com/ 


Lot Sixty One Coffee café de especialidade e chás de sabores intensos em La Valletta. Ideal para uma pausa ao meio da manhã. www.lotsixtyonecoffeemalta.com/ 


The Queen Victoria City Pub parámos neste pub para provar a cerveja local, a Cisk Lager. www.facebook.com/queenvictoria.mt/


Caffe Cordina este restaurante no coração de La Valletta era um antigo palácio. Almoçámos pratos ligeiros na ampla esplanada à sombra dos guarda-sóis. Provámos os famosos pastizzi, uns pastéis de massa folhada de influência árabe. caffecordina.com/


King's Own Band Club Bar & Restaurant situado na principal via pedonal de La Valleta, na rua da República, este restaurante está ligado à presença do atual rei Charles de Inglaterra na ilha. www.facebook.com/Kingsownbarandrestaurant/ 


Lija Bocci Club foi no restaurante do clube de Bocci que provámos fenkata. O tradicional prato de coelho guisado servido numa panela de barro está presente em qualquer celebração. www.instagram.com/lijabocciclubhouse/ 


Tal-Massar Winery em Gozo. Visitámos esta adega familiar de dois hectares que oferece experiências de enoturismo. A tradição vinícola recua ao tempo dos fenícios. O solo calcário, a proximidade ao mar e baixa temperatura no verão confere características únicas ao vinho maltés. www.massarwinery.com/ 


Il-Kartell em Gozo. Este restaurante à beira-mar é ideal para almoçar peixe fresco. www.kartellrestaurant.com/


Tora o restaurante asiático do hotel Barceló Fortina, em Sliema. O almoço foi servido na esplanada com vista para a piscina do hotel, o mar Mediterrâneo e La Valletta. Provámos Dumplings, Spring Rolls, beringela grelhada, carne de vaca com arroz frito e, de sobremesa, banana frita com gelado de toffee. Tudo muito condimentado e saboroso. Acompanhámos o almoço com o Kinnie, uma bebida local com gás feito com laranjas ácidas e ervas aromáticas. www.tora.mt/ 

 

O que visitar | What to visit

Birgu fizemos uma visita noturna à cidade onde primeiramente se instalaram os Cavaleiros da Ordem de São João. A cidade medieval foi construída pelos árabes, os Cavaleiros reforçaram as defesas do porto. Também é conhecida como Vittoriosa devido à vitória dos Cavaleiros que, em 1565, resistiram ao cerco dos turcos otomanos.  O Palácio do Inquisidor foi tribunal, prisão e sede da Inquisição durante os mais de 200 anos de presença na ilha. Aberto até às 19h. Preço: 6€. heritagemalta.mt/explore/the-inquisitors-palace/ 


Museu Marítimo em Birgu. A antiga padaria naval expõe uma amplia linha temporal de objetos ligados à história marítima do país, desde barcas romanas, tesouros dos piratas do Mediterrâneo, miniaturas das galés da Ordem de São João e referências ao papel de Malta nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Aberto até às 18h. Preço: 8€. heritagemalta.mt/explore/malta-maritime-museum/ 


La Valletta depois do Grande Cerco de 1565, o Grão-Mestre da Ordem, Jean de la Valette, ordenou que se construísse uma nova cidade amuralhada, protegida por dois portos naturais. A UNESCO reconheceu o seu incomparável legado, declarando-a Património da Humanidade em 1980.


Jardins Upper Barrakka o melhor miradouro da cidade para observar o grande porto e as Três Cidades: Birgu, Cospicua e Senglea, na outra margem. Às 12h, todos os dias, lançam-se balas de canhão, uma prática antiga que servia para avisar os pescadores que andavam no mar.


Ópera depois da Segunda Guerra Mundial a ópera ficou em ruínas. A reconstrução ficou a cargo do célebre arquiteto italiano Renzo Piano que a devolveu à cidade como um auditório ao ar livre.


Novo Parlamento contrasta pela modernidade e ousadia com os edifícios circundantes, também ele obra do arquiteto Renzo Piano.


Albergue de Castela e Portugal os Cavaleiros distribuíam-se por nacionalidades pelos diferentes albergues da cidade. O de Castela e Portugal ostenta os escudos dos dois países na fachada. Hoje, é o escritório do primeiro-ministro de Malta.


Fonte de Tritão uma fonte modernista à entrada de La Valletta.


Co-Catedral de São João concluída em 1577, a fachada maneirista, austera e sóbria da co-catedral, não deixa antever a riqueza do interior de arquitetura barroca. Num oratório adjacente, expõem-se duas das obras mais importantes de Caravaggio, também ele, Cavaleiro da Ordem. Aberta até às 16.45h, fecha ao domingo. Preço: 15€. www.stjohnscocathedral.com/ 


Palácio do Grão-Mestre depois de cinco anos de restauração, acaba de reabrir o antigo Palácio do Grão-Mestre da Ordem. É o atual escritório do Presidente da República de Malta e local de receção de visitas oficiais de Estado. Aberto até às 18h. Preço: 12€. heritagemalta.mt/explore/grand-masters-palace/ 


Blue Grotto em Wied iż-Żurrieq. É uma formação rochosa talhada pelo mar e vento e antigo refúgio de piratas. Há um pequeno miradouro na falésia, mas o mais impressionante é ver a caverna desde um barco quando a luz do sol incide nas rochas e reflete a água de um azul intenso.


Marsaxlokk uma aldeia piscatória com muito encanto e ambiente relaxado. Há um mercado de peixe ao ar livre todas as manhãs. Os restaurantes servem o melhor peixe fresco da ilha.


Mdina a "Cidade do Silêncio" foi a antiga capital, localizada no interior da ilha. Foi fundada pelos fenícios no século VIII a.C., contudo, foram os árabes que, em 870, construíram a muralha defensiva. Foi habitada pela nobreza de Malta até à chegada dos Cavaleiros e posterior construção de La Valletta. A Catedral é dedicada ao apóstolo São Paulo, que naufragou em Malta no ano 60 d.C. e introduziu o cristianismo na ilha. Atualmente, vivem 300 pessoas em Mdina e o acesso com carros só está permitido a moradores.


Templos de Ġgantija em Gozo. Estas ruínas arqueológicas são mais antigas que Stonehenge e as pirâmides do Egipto. Datam do ano 3600 a.C., mas apenas foram descobertos em 1880. É um lugar de grande mistério, acredita-se que eram templos religiosos.


Qbajjar Salt Pans as salinas com 350 anos de antiguidade estendem-se por mais de três quilómetros à beira-mar. São formadas por quadrados muito precisos escavados na rocha.


Victoria ou Rabat a carismática capital de Gozo é uma cidadela fortificada no alto de uma colina. A cidade alterou o nome para homenagear a rainha Victoria de Inglaterra no seu jubileu de diamante em 1897. Contudo, os habitantes locais ainda se referem à cidade como Rabat, o nome árabe. A Catedral da Assunção tem como particularidade a falsa abóbada, ilusão de ótica de uma pintura em perspetiva, pois os habitantes de Gozo não podiam pagar uma cúpula verdadeira.


 

Aqui está o mapa com todos os locais mencionados no post:



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