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Santander, Espanha

Entre a natureza selvagem das Astúrias e a costa abrupta do País Basco, localiza-se a Cantábria, menos conhecida que as regiões vizinhas, mas com igual encanto.


Visitei Santander em duas ocasiões. A oportunidade de rumar em direção ao norte surgiu a convite da Universidade Internacional Menéndez Pelayo para participar nos famosos cursos de verão.


Entre aulas e apresentações, conseguimos tirar o máximo partido das praias de areia branca, do mar de mil tons de azul, do tempo cálido, da gastronomia marítima e da programação cultural de Santander.


"Santander la marinera

Es la que más quiero yo

La que tiene azul el alma

Y al viento en su corazón

La que crio a Sotileza

La del hablar cantarina

En el tendal ropa blanca

Y un jilguero en el balcón"

Santander la marinera, de Chema Puente, 2007


A antiga cidade portuária ganhou popularidade no início do século XX, quando o rei Alfonso XIII e a rainha Victoria Eugenia de Battenberg, neta de Victoria de Inglaterra, a elegeram para passar a temporada estival fugindo do calor infernal de Madrid.


Os banhos de mar estavam na moda e a sociedade aristocrática e intelectual da época começou a frequentar as praias de Santander.


Na Avenida de la Reina Victoria, construíram-se palacetes, solares, hotéis e o Gran Casino com vista para a Playa de El Sardinero, a praia por excelência da cidade, equiparável às praias de Biarritz, Nice ou Monte Carlo.


Playa de El Sardinero; "Neptuno Niño" de Ramón Muriedas, 1979, na Playa del Camello; Palácio da Magdalena.


Durante a nossa estadia, os dias amanheceram com nuvens diluídas num céu azul-claro.


Pela manhã dirigíamo-nos ao Palácio da Magdalena, sede da universidade com ares de mansão vitoriana erguido numa península. Foi oferecido aos reis pelo Ayuntamiento como residência durante as estâncias em Santander.


É um lugar verdadeiramente fabuloso e explica o êxito dos cursos de verão: não é qualquer universidade que dispõe de autênticos salões de baile como salas de aula. A paisagem que rodeia o palácio é igualmente incomparável: um denso bosque verdejante, pequenas praias com piscinas naturais entre as formações rochosas e o mar Cantábrico no horizonte.


Depois das aulas, tínhamos as tardes livres para explorar a cidade e arredores.


Heladaría Regma, Santander, España

A gelataria Regma.


No centro da cidade, o Paseo de Pereda está repleto de notáveis edifícios altos e coloridos, as Plaza de Pombo e de Cañadío estão polvilhadas de convidativas esplanadas ao sol. A vida contemporânea desenrola-se por estas luminosas ruas.


A gastronomia do norte de Espanha está intrinsecamente conectada com a proximidade ao mar e em Santander respira-se vida marítima. É impossível ignorar os extensos menus dos restaurantes com oferta de peixe e marisco fresco, pescados no próprio dia ali, no Cantábrico.


Ameijoas, vieiras, mexilhões, lulas, rabas de calamar, polvo… a lista é interminável e o melhor é pedir variedade e, ao bom modo espanhol, compartir.


Jardines de Piquío; Zamburiñas no restaurante Alamar; Uma criança brinca na Plaza de Pombo; Barricas decoradas por artistas no restaurante Bodega del Riojano.

Atravessámos timidamente os Jardins de Perena antevendo as estruturas assimétricas de cerâmica, metal e vidro.


O Centro Botín é um disruptivo centro de arte contemporânea que impressiona pela sua forma e volume. Foi projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, galardoado com o Prémio Pritzker, e inaugurado em 2017.


A decoração é inexistente, a beleza reside na própria estrutura. Os dois enormes volumes estão em equilíbrio sobre estreitas colunas permitindo que se vislumbre a baía a partir dos jardins. A luz é seduzida e convidada a atravessar a estrutura, unindo todos os elementos.


Está perfeitamente enquadrado na paisagem e é de visita obrigatória.


Centro Botín; Vista para a baía de Santander; Café no El Muelle.


No dia seguinte, saímos da cidade e aproveitámos para conhecer alguns dos pueblos mais encantadores da Cantábria.


Santillana del Mar é uma autêntica joia medieval conhecida popularmente pela vila das três mentiras porque não é santa, nunca foi reconhecida como sagrada pela Igreja católica, não é llana (plana) pois situa-se entre colinas rochosas, nem tem mar, dado que está a sete quilómetros de distância.


Perder-nos pelas ruas empedradas e estreitas observando as casas de vigas de madeira com varandas decoradas com flores, os arcos de volta perfeita e as fachadas de casas abrasonadas em pedra supõe uma viagem no tempo.


Como se não bastasse o monumento vivo que é a vila, apenas a dois quilómetros encontra-se a gruta de Altamira, considerada a Capela Sistina da arte rupestre.


Há 14.000, anos os nossos antepassados cobriram os tetos da gruta com desenhos de bisontes, cavalos, veados, mãos e símbolos misteriosos. Uma derrocada encerrou a entrada da gruta, contribuindo para que o ambiente interno mantivesse a estabilidade climática ideal para a conservação das gravuras rupestres durante milhares de anos até à sua descoberta, em 1868.


Gravura rupestre na Gruta de Altamira; Gelado Regma em Comillas; Santillana del Mar; The Exvotos numa loja de artesanato.


Mais de 100 anos depois da família real se ter instalado na cidade, Santander conserva uma essência aristocrática, alegre, refinada e nostálgica. O passado convive em perfeita sintonia com a cidade moderna, elegante e artística do presente.


Como sempre despeço-me da cidade prometendo regressar, Santander estará à minha espera no próximo verão.

 

Como chegar How to get there

Fomos de carro de Madrid até Santander. Outra opção poderá ser viajar de avião de Lisboa até Bilbau, a uma hora de carro de Santander.


Como se deslocar How to move around

Santander é uma cidade bastante pequena e tudo é acessível. Não usámos nenhum transporte público. Do centro da cidade até a El Sardinero são 20 minutos a pé. Quando saímos da cidade fomos de carro.

Onde dormir Where to sleep

Gran Hotel Victoria na primeira vez que fui a Santander, ficámos alojadas neste hotel com quartos luminosos virados para o mar perto da Playa de El Sardinero. www.granhotelvictoria.com/


Na última visita, ficámos comodamente alojadas na residência de estudantes da universidade.


Onde comer Where to eat

Alamar situa-se numa rua repleta de restaurantes perto da Playa de El Sardinero. Autodenomina-se taberna de pescadores, por isso a especialidade é peixe grelhado e marisco. Pedimos as ameijoas, os calamares encebollados e as zamburiñas a la plancha. Tudo delicioso com um sabor a mar. www.facebook.com/restalamar/


Bodega del Riojano um restaurante com ar de adega requintada pois a decoração consiste em várias barricas pintadas por artistas nacionais e internacionais desde o pós-guerra até aos dias de hoje. A salada russa e as rabas de calamar com limão são um clássico. bodegadelriojano.com/


La Nueva Gaviota um restaurante no bairro pesqueiro de Santander, com uma esplanada soalheira com vistas para a marina. Foi aqui que provei chipirones (calamares pequeninos) pela primeira vez. restaurantelagaviota.es/


La Casa del Indiano está localizado no Mercado del Este. É ideal para picar algo enquanto passeamos pelo centro de Santander. casadelindiano.com


El Muelle é o restaurante do Centro Botín. Com uma vista privilegiada para a baía, este espaço convida à reflexão e é ideal para um café com um doce ou algo ligeiro. Também preparam o Picnic de Amós. Numa bonita caixa de cartão, que depois de aberta se transforma numa toalha, vem um menu de almoço para duas pessoas. É uma excelente opção para disfrutar de uma refeição ao ar livre.


Gelados Regma são obrigatórios. O fundador batizou a gelataria com o nome das duas filhas, Regina e Margarita, e há exatamente 90 anos que os gelados se derretem no paladar dos veraneantes. Não têm uma variedade infinita de sabores, apenas os essenciais. Há vários quiosques de gelados por Santander e pela região. regma.es/


La Sidrería em Santillana del Mar. É uma tasca típica com pinchos e tapas dispostos ao longo do balcão e, obviamente, servem sidra.


O que visitar What to visit

Playa del Sardinero a praia urbana mais popular de Santander. Estende-se entre península de Magdalena e a zona de Mataleñas. O mar Cantábrico, calmo e com temperaturas bem mais suportáveis que o nosso rigoroso Atlântico, convida a demorados mergulhos.


Palácio da Magdalena erguido numa península rodeado por um bosque, o palácio, com um inconfundível estilo inglês, foi residência de verão dos reis Alfonso XIII e Victoria Eugenia entre 1913 e 1930. Atualmente é a sede da Universidade Internacional Menéndez Pelayo, uma instituição de grande prestígio e pioneira na criação de cursos de verão de língua, literatura e cultura espanhola para estrangeiros. Preço: 6€. www.palaciomagdalena.com/


Playas de los Peligros, de la Magdalena e de los Bikinis as três praias da península da Magdalena. A última deve o seu nome às estudantes estrangeiras que frequentavam a universidade nos anos 50 e exibiam essa peça de vestuário tão provocadora para a época.


Catedral da Assunção de Nossa Senhora foi construída entre os séculos XII e XIV, tem alguns elementos românicos, mas o estilo gótico é predominante.


Fundación Caja Cantabria com uma programação cultural variada entre o cinema, a arte, fotografia, vale a pena consultar a agenda quando visitarem a cidade. Nós assistimos à peça La Desnudez, um espetáculo de dança contemporânea da companhia de Daniel Abreu. fundacioncajacantabria.es/


Centro Botín assim como o Museu Guggenheim em Bilbau, este centro de arte contemporânea, provocou uma alteração no panorama artístico e na oferta cultural da cidade. Para além do museu com obras de Henri Matisse, Francis Bacon e Joaquín Sorolla, um auditório, um restaurante e uma loja compõe o complexo. Aberto até às 21h. Preço: 8€. www.centrobotin.org/


Santillana del Mar é uma pequena vila fundada pelos romanos e recuperada na Idade Média onde o património arquitetónico se conserva quase intacto. Tem uma população de cerca de 4.000 pessoas e atrai muitos turistas, por isso há grande variedade de restaurantes, lojas de produtos locais e artesanato, onde encontrámos as jarras de cerâmica dos nossos amigos The Exvotos de Sevilha.


Altamira a dois quilómetros de Santillana del Mar encontra-se gruta de Altamira com gravuras rupestres. Este conjunto artístico é um dos mais importantes do mundo pré-histórico e foi declarado Património Mundial pela UNESCO em 1985. Devido à fragilidade das gravuras e à forte afluência de visitantes, a comunidade científica decidiu encerrar a gruta para evitar a sua deterioração. Em 2001, adquiriram-se os terrenos adjacentes e construiu-se um museu e uma réplica da gruta, esta visitável. Aberto até às 20h. Preço: 3€. www.culturaydeporte.gob.es/mnaltamira/home.html


Comilas a 50 quilómetros de Santander esta vila costeira de 2.000 habitantes merece uma visita. A Plaza Vieja, a igreja e algumas casas conservam as características da arquitetura popular do século XVIII, mas o verdadeiro esplendor são as casas nobres do final do século XIX e "El Capricho", um palácio modernista construído por Antonio Gaudí.

 

Aqui está o mapa com todos os locais mencionados no post:




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