Saímos de Bangkok bem cedo rumo a Ayutthaya.
A segunda capital do reino de Sião, posterior a Sukhothai, foi fundada em 1350 e, durante dois séculos, foi a cidade mais próspera do sudoeste asiático e o centro de comércio e diplomacia mais importante do oriente.
O seu porto fluvial recebia comerciantes da China, do Japão, do Médio Oriente e da Europa e a cidade deslumbrava com os seus riquíssimos palácios e templos.
Contudo, em 1767, um brutal ataque dos birmaneses deixou a cidade devastada, os templos destruídos, os palácios incendiados e as estátuas decapitadas.
Não houve qualquer reconstrução e hoje podemos admirar os escombros de uma grandiosa civilização que se afirmava como impenetrável.
Passámos o dia na companhia do Mr. Suksarn Kongsak, um guia local que nos levou à descoberta da antiga cidade de Ayutthaya.
O ar lúgubre dos complexos históricos contrastava com o verde intenso das árvores sagradas bodhi. O ouro que cobria as esculturas do Buda foi derretido e roubado pelos invasores, as marcas da destruição pelo fogo são impactantes. A quase total ausência de turistas conferia à cidade uma aura melancólica de um paraíso esquecido no tempo.
Wat Mahathat; Wat Phra Si Sanphet; A cabeça decapitada do Buda incrustada nas raízes de uma árvore bodhi, no Wat Mahathat; Budas alinhados com túnicas cor de açafrão no Wat Yai Chaya Mongkol.
Depois de jantar, chegou a hora de embarcar num comboio noturno rumo ao norte do país.
Refugiámo-nos nos compartimentos minúsculos, divididos por uma cortina azul. A opinião foi unânime, embaladas pela constante cadência do comboio, dormimos a melhor noite de toda a viagem. Despertámos com a luz da madrugada, doze horas depois.
Entre bruma e orvalho, antevíamos campos verdejantes e bosques infinitos. Chegámos ao nosso próximo destino: Chiang Mai.
Nestas viagens não há tempo a perder, não se desfazem malas nem se tomam banhos relaxantes. Chiang Mai, a capital cultural da Tailândia, rebuliça de criatividade e há muito que ver e fazer.
Começámos por visitar os templos mais populares, alguns esteticamente parecidos aos de Bangkok, outros totalmente distintos, todos ricamente elaborados. Vários jovens vestidos com túnicas laranjas garrido passavam por nós timidamente.
Durante a tarde, passeámos pela cidade e pelos seus mercados de rua. Não nos cansávamos da improvisação, da combinação de cores, das luzes ofuscantes, dos cheiros intensos e da atividade frenética.
Wat Lok Molee; Uma escola local; Jovens monges no Wat Phra Singh; Mercado Warorot.
A gastronomia é um dos pontos de interesse quando se visita a Tailândia. Longe dos restaurantes turísticos da capital, foi em Chiang Mai que pudemos explorar os manjares tradicionais a preços realmente acessíveis.
O Pad Thai foi recorrente. O prato tailandês por excelência é composto por noodles de ovo com soja, amendoins e uma rodela de lima. Variávamos na proteína entre tofu, frango ou camarão. Khao Soi é típico do norte e contém noodles de arroz cozinhados num molho de caril à base de leite de côco, com noodles fritos e crocantes, frango ou carne de vaca. Todos os pratos eram muito condimentados com erva-príncipe e picante. A sobremesa mais famosa, o Mango sticky rice é, como o nome indica, um arroz pegajoso, adocicado, cozinhado em leite de côco, servido com manga cortada aos cubos.
A gastronomia tailandesa é única e a necessidade básica de comer transforma-se num ritual que se celebra a cada garfada.
Contrariámos o cansaço e fomos descobrir a vida noturna de Chiang Mai. A proximidade com outros países do sudoeste asiático tornou a cidade no epicentro dos turistas jovens que estão de passagem por esta zona do globo. Concertos ao vivo de jazz e reggae, bares com música comercial, discotecas futuristas e um ambiente descontraído, as noites do norte não têm nada que invejar as ruas movimentadas e ruidosas da capital.
Elephant Nature Park; Touros asiáticos e búfalos passeiam livres pelo parque; Lek, a fundadora do Elephant Nature Park, com um cão com a coluna partida ao colo; A elefante que pisou uma mina na fronteira com Myanmar precisa de mudar o curativo diariamente.
O dia amanheceu nublado, mas não nos diminuiu o entusiasmo. Íamos visitar um santuário de elefantes.
Durante centenas de anos, elefantes asiáticos autóctones foram explorados como mão-de-obra para a desflorestação, atração nos circos e passeios turísticos. Felizmente, estas práticas são cada vez mais criticadas e há uma maior consciencialização para não participar nem apoiar atividades que envolvam sofrimento animal. Por isso surgiu a necessidade de criar um lar onde estes elefantes debilitados pudessem finalmente descansar e viver uma vida digna.
No entanto, há muitos "santuários" que continuam a implementar práticas duvidosas. Depois de uma pesquisa aprofundada sobre as várias propostas, concluímos que o Elephant Nature Park reunia todas as condições de um verdadeiro refúgio para os elefantes.
A uma hora de Chiang Mai, chegámos a um prado atravessado por um rio e rodeado por densos bosques que escalavam as encostas das montanhas. O local é idílico.
Além de 160 elefantes, o Elephant Nature Park também acolhe 200 búfalos e centenas de gatos e cães abandonados.
Cada elefante tem o seu respetivo cornaca, um cuidador que o acompanha e que o mima preparando o famoso arroz sticky envolvido em folhas de bananeira, cortando melancias em grandes pedaços e distribuindo toneladas de cachos de bananas ao longo do dia.
A adorável guia Beebee apresentou-nos grande parte da família feminina que compõem o refúgio. Os machos são mantidos na outra margem do rio.
A Beebee tratava os elefantes pelo nome e contou-nos as suas arrepiantes histórias de vida, mas com algum humor sarcástico e inocente à mistura.
O parque resgatou elefantes que foram cegados pelos próprios donos para os domesticar, elefantes amputados por terem pisado minas, outros com ancas partidas ou cabeças deformadas devido ao peso dos troncos que eram obrigados a carregar. Chegam bastante debilitados e com lesões graves.
Mais de 300 funcionários garantem a sua recuperação e nós sentimos que, com a nossa visita, apoiámos este refúgio tão necessário.
Um elefante pousou connosco para a foto.
Era o nosso último dia no norte do país, fomos visitar o templo mais importante da cidade.
Abraçado pela densa vegetação selvagem, antevíamos o chedi pontiagudo do Wat Doi Suthep. A natureza que circunda Chiang Mai rouba todo o protagonismo às construções religiosas.
Do cimo da montanha, onde se encontra o templo, prometeram-nos uma vista incrível para infinitos campos de arroz e buganvílias a contrastar com o azul do céu.
Sob a égide de dois terroríficos nagas, duas cobras com várias cabeças de mosaicos brilhantes que representam divindades da mitologia budista, subimos os 306 degraus que antecedem o templo. Fiéis compravam flores de lótus cor-de-rosa e amuletos em forma de coração para oferecerem aos deuses em sinal de gratidão. Descalças e debaixo de uma chuva miudinha, explorámos os claustros pintados com murais da vida do Buda que rodeiam o chedi de ouro ao centro. Porém, foi impossível ver a principal atração: a prometida paisagem incomparável da montanha. Nuvens rasantes e espessas cobriam o céu de cinzento e o nevoeiro apoderou-se do horizonte.
Ficou prometido o regresso a esta cidade calma, acolhedora, espiritual e criativa.
Songthaew, o tradicional táxi partilhado; A escadaria do Wat Phrathat Doi Suthep; Wat Umong Suan Phutthatham.
Para terminar a estadia em Chiang Mai, fomos a um centro de massagens tailandesas. Sentadas comodamente em poltronas, lado a lado, recebemos uma massagem nas pernas e pés, durante uma hora.
Entre risos nervosos e tímidos das constantes cocegas e pontadas de dor cautelosamente infligida, terminámos prontas para embarcar para o próximo destino: as ilhas paradisíacas do Mar de Andamão. O roteiro de Krabi, Koh Lanta e Koh Phi Phi está publicado aqui.
Como chegar How to get there
Para visitar Ayutthaya contratámos uma excursão do Get Your Guide com guia e transfer desde Bangkok. bit.ly/3Hp4P0o
Há voos internos de Bangkok para Chiang Mai, mas nós optámos pelo comboio noturno. Demorou aproximadamente 12h. 12go.asia/pt
Como se deslocar How to move around
Andámos sempre a pé, de tuk tuk, songthaew ou Grab. As cidades não são muito grandes, mas há algumas atrações fora do centro.
Onde dormir Where to sleep
Lanna Oriental Hotel dentro das antigas muralhas de Chiang Mai, a localização é excelente. Os quartos muito espaçosos e bonitos. Apesar do tempo nublado, aproveitámos a piscina. bit.ly/3DDjnZA
Onde comer Where to eat
Fern Forest Café uma esplanada rodeada de vegetação e um pequeno riacho com peixes enormes e coloridos foi o cenário escolhido para a primeira refeição em Chiang Mai. A tarte de limão que pedimos de sobremesa estava divinal. www.instagram.com/fernforestcafe/
Night Bazaar um mercado de comida coberto. Há vários postos com variedade para todos os gostos. Um deles vende carne de crocodilo. No primeiro andar há um bar com música ao vivo.
Chang Phuak Gate Night Market um mercado de rua com barraquinhas com fogões no meio da estrada, mesas e cadeiras de plástico. Tudo cozinhado à nossa frente e no momento com produtos locais e frescos.
ร้านป้าหรั่ง muito perto do Wat Umong. Debaixo de um toldo à beira da estrada com ventoinhas, este restaurante estava cheio de tailandeses. A falta de comunicação com a rapariga que nos serviu levou-nos a cometer um erro crasso, pedimos o que os jovens de uniforme escolar estavam a comer ao nosso lado. Serviram-nos noodles, vegetais e marisco empapados num molho vermelho garrido numa tigela de plástico. O único comestível eram os noodles fritos à superfície, tudo o resto era intragável de tão picante.
Sunday Baker para nos refugiarmos da chuva entrámos nesta acolhedora pastelaria. Bebemos um chá e comemos bolos deliciosos. www.facebook.com/sundaybakercafe/
Tam Leung este restaurante tem um cartaz gigante à entrada com fotos de todos os pratos, facilitando a escolha. Pedimos várias opções para partilhar.
O que visitar What to visit
Em Ayutthaya
Antiga capital da Tailândia, cujo nome significa, ironicamente, cidade impenetrável, é um local de paragem obrigatória. A 85 km de Bangkok, sofreu uma terrível invasão do reino vizinho da Birmânia (atual Myanmar) no século XVIII que deixou a cidade em ruínas e nunca foi reconstruída. Os habitantes foram obrigados a abandoná-la e, pouco tempo depois, o rei Rama I fundou a atual capital. Foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO em 1981.
Wat Mahathat um grande complexo arqueológico com vários chedis, torres cilíndricas construídas sobre os restos mortais de personalidades importantes na época. Foram alvos recorrentes de roubos, por isso as bases estão danificadas e as torres inclinadas. Depois do ataque dos birmaneses, uma cabeça decapitada do Buda foi "milagrosamente" envolvida pelas raízes da árvore sagrada Bodhi e aí encontrou eterno refúgio.
Wat Lokaya Sutharam uma enorme escultura do Buda reclinado de 42 metros de comprimento. Foi restaurada em 1954, mas ainda são visíveis as marcas das queimaduras provocadas pelo fogo que os birmaneses usaram para derreter o ouro que a cobria.
Palácio Viharn Phra Mongkol Bophit arquitetonicamente semelhante ao de Bangkok. A imagem do Buda dourado de 17 metros de altura é adorada diariamente por dezenas de fiéis.
Wat Phra Si Sanphet dentro do complexo do Palácio Real, este templo consiste em três chedis alinhados onde a realeza realizava rituais.
Wat Chaiwatthanaram a oeste do rio Chao Praya, fora da ilha de Ayutthaya, é um templo real construído em 1630. Foi residência de monges budistas que praticavam meditação em eremitérios na floresta.
Wat Phanan Choeng um templo de construção moderna, na margem este do rio Chao Phraya. Contem uma escultura dourada do Buda de 19 metros de altura.
Em Chiang Mai
Situada nas margens do rio Mae Ping, foi a última capital do reino Lanna (1292-1775), o país de milhões de campos de arroz, contemporâneo e rival do reino de Ayutthaya. Atualmente é considerada a capital cultural do país.
Wat Phra Singh é um dos maiores templos localizado no coração da cidade velha. Data do século XIV, quando Chiang Mai era a capital do reino Lanna.
Wat Chedi Luang Varavihara templo budista no centro da cidade do século XVI, famoso pelo chedi gigante, rodeado de elefantes esculpidos.
Wat Lok Moli um templo construído em 1527, a stupa em forma de sino contem as relíquias do rei Muang Ketklao.
Mercado Warorot um mercado de rua em constante agitação, há várias barraquinhas de comida ao longo da estrada. Aberto até às 18h.
Elephant Nature Park fundado em 2003 no vale Mae Taeng, muito perto de Chiang Mai, é um centro de acolhimento de elefantes aleijados, mal tratados doentes, negligenciados. Aqui os elefantes não fazem acrobacias, não são montados nem trabalham, vivem uma vida o mais natural e selvagem possível enquanto recuperam. Há várias opções de visita, nós elegemos a de passar o dia completo com pick-up no hotel e almoço buffet vegetariano. www.elephantnaturepark.org/
Wat Phrathat Doi Suthep fora do centro histórico. Duas terroríficas cobras com várias cabeças ladeiam a escadaria que nos guia até ao templo. Há vários espaços de oração e chedis banhados a ouro. Preço: 30 BHT.
Wat Umong Suan Phutthatham um templo afastado do centro histórico. É formado por túneis labirínticos com altares com figuras do Buda e chedis de grandes dimensões.
Parque Nong Buak Haad um pequeno parque no centro da cidade.
Da Massage pelas ruas de Chiang Mai havia incontáveis centros de massagens tradicionais tailandesas. Este local pareceu-nos o indicado para experimentar a massagem nos pés e pernas. Não necessita de marcação. Aberto até à 00h. Preço: 250 BHT.
Onde sair Where to go out
Zoe in Yellow um bar situado numa movimentadíssima zona noturna dentro das muralhas. Música comercial, bom ambiente e muitos turistas europeus. www.instagram.com/zoeinyellowchiangmai/
Roots Rock Reggae um bar com música ao vivo perto do Zoe in Yellow. www.facebook.com/RootsRockReggaeCM/
Spicy club a discoteca de Chiang Mai. Tem dois andares e é o local de encontro de todos os jovens de várias nacionalidades. www.facebook.com/SpicyClubChiangmai/
Onde comprar Where to shop
Chanya Shops and GalleryWat Sri Suphan lojas com artesanto local, roupa tie-dye, pinturas e esculturas. Tudo muito autêntico, acessível e bonito, com um design contemporâneo. Ideal para comprar os souvenirs da viagem.
Kalm Village arte, artesanato, cultura é este o mote para esta concept store dentro de um edifício moderno e minimalista, com pátios e jardins interiores. Uma galeria de arte, um restaurante, uma livraria, museus têxtil e de joalharia, várias lojas e salas para workshops e eventos fazem parte deste espaço onde artistas locais expandem a sua criatividade. www.kalmvillage.com/
Aqui está o mapa com todos os locais mencionados no post:
Gostei muito da crónica. Parabéns.😘