Saímos de Viñales bem cedo e atravessámos o país em direção a Cienfuegos, a Pérola do Sul.
Fizemos uma paragem técnica na garagem de um amigo do condutor para repor a gasolina fora dos postos oficiais.
O Governo tinha decretado que cada taxista teria direito ao equivalente a 30€ de gasolina naquele mês. O nosso condutor, cabisbaixo, explicou-nos que essa quantidade corresponde a apenas dois ou três dias de trabalho.
Ao longo das cinco horas de viagem, a paisagem surpreende pelo verde intenso, despontado pela humidade característica do país.
Carro clássico no Parque José Martí.
Teatro Tomás Terry.
Estátua do poeta José Martí, herói nacional.
Vivendas no Malecón de Cienfuegos.
Chegámos a Cienfuegos à hora de almoço. A arquitetura neoclássica e o ambiente marinheiro conferem uma aura de encanto a esta cidade diminuta que se descobre numa tarde.
Passeámos pela rua de São Fernando até chegar ao Parque José Martí, o epicentro da cidade. Aqui encontram-se os edifícios mais emblemáticos como a Catedral de la Purísima Concepción, o Teatro Tomás Terry e a Casa Provincial de la Cultura.
Pelo Paseo del Prado, aproximámo-nos do passeio marítimo, o malecón de Cienfuegos, e fomos recebidos pela brisa do Caribe.
Ao final do dia, regressámos ao Parque e encontrámos um restaurante envolto pela penumbra devido ao momentâneo corte de eletricidade. Junto às altas janelas, serviram-nos a única refeição possível.
Já completamente de noite, atravessámos a cidade sem iluminação elétrica até à estação onde apanhámos um autocarro para Trinidad.
Às 22.30h, envoltos numa escuridão total, encontrámos a casa onde íamos dormir as três noites seguintes.
Praia de Ancón.
Carro clássico nas ruas empedradas de Trinidad.
Frutaria ambulante.
Canchánchara, o cocktail típico de Trinidad.
Alterámos os planos previstos para o primeiro dia nesta região do país. A previsão meteorológica avisava-nos que o dia ia ser solarengo, ideal para ir à praia.
Após um pequeno-almoço caseiro, preparado com ingredientes locais, no terraço da casa da Marlenis, fomos até à praia de Ancón, considerada uma das mais bonitas do sul de Cuba.
A promessa do paraíso antevia-se no horizonte. Combinámos a hora de regresso com a taxista que nos levou e negociámos o preço de um guarda-sol de palhinha com espreguiçadeiras de plástico. O almoço foi num chiringuito com baloiços em que os pés descalços tocavam na areia fina.
O sol tórrido do Caribe refletia-se na superfície da água cristalina permitindo-nos ver peixinhos apressados que se afastavam à nossa passagem.
De regresso a Trinidad saímos para jantar quando os raios de sol criavam novas geometrias sobre os telhados das casas.
A cidade tem uma vida noturna descontraída e, tal como em Havana, a música é omnipresente.
Escolhemos um restaurante com jazz ao vivo e, de seguida, fomos à Casa da Música, a sala de concertos de rumba e salsa. Bailarinos profissionais e turistas não tão experientes dançavam em frente à banda de doze elementos.
Nós, meros espetadores, provámos a cachánchara, a bebida típica de Trinidad elaborada com aguardente de cana, mel e sumo de limão.
Plaza Mayor.
No dia seguinte, fomos finalmente conhecer os tesouros que Trinidad preserva.
O património arquitetónico foi conservado com brio ao longo dos séculos e a cidade parece estar detida no tempo.
Sem horários nem pressas, saímos para a descobrir com calma, ao ritmo cubano, cantarolando "Guantanamera, guajira, guantanamera". A música já entranhada nos nossos passos.
Trinidad é tranquila, contudo as praças estão cheias de vida quotidiana, com barbearias ao ar livre, crianças com o uniforme escolar a brincar em parques infantis, frutarias ambulantes e cafés movimentados.
O ar colonial é palpável em todos os cantos. A calçada de pedras irregulares dificulta a caminhada e contrasta com as casas e palácios com coloridas fachadas. No seu conjunto concedem um ar pitoresco e único à cidade.
Vista desde a torre do Museo Nacional de la Lucha contra Bandidos.
Carroça no centro da cidade.
Começámos as visitas pela Plaza Mayor, custodiada pela Iglesia Mayor de la Santísima Trinidad e pelo Museo de Arquitectura Colonial.
Prosseguimos para o Palácio de Cantero, uma recordação exuberante de outros tempos.
O imponente palácio foi residência de uma caraterística família burguesa cubana, onde se observam objetos de um luxuoso conforto.
A guia Odalis contou-nos que o esplender económico, arquitetónico e cultural de Trinidad deve-se ao auge da plantação de cana-de-açúcar. No século XIX, tinha uma ativa vida social e a burguesia vivia em consonância com o fausto e refinaria europeus. Todo este esplendor estava sustentado na crueldade do trabalho forçado dos escravos africanos. Só neste palácio, trabalhavam vinte escravos para atender às necessidades da família com doze filhos.
Arrastando os pés e a alma entre o sol implacável e a humidade do ar, parámos a meio da manhã para repor energias com um sumo de fruta natural no café Fortuna. Os trinitenses presumem ter a melhor fruta tropical do país. Manga, ananás, goiaba e papaia adquirem níveis de sabor pouco comuns para os europeus.
Casa colonial na Plaza Mayor.
Café Fortuna.
Visitámos o Museo Nacional de la Lucha contra Bandidos acompanhados pelo Roberto, o guia de serviço.
O antigo convento de 1730 é hoje o local de memória da luta contra os rebeldes armados que puseram a em causa Revolução de 1959 .
Partilhámos confidências com o Roberto quando ele nos perguntou pela nossa experiência no país. Ele, apoiante e defensor do Governo, falou-nos da decadência e corrupção que existia quando Cuba era uma colónia de férias dos americanos. No entanto, reconheceu que a realidade atual é dura e que muita gente abandona as cidades cubanas do interior rumo à capital à procura de trabalho bem remunerado na área do turismo. A filha dele, dentista, ganha tanto num mês quanto um taxista transportando turistas entre cidades numa única viagem.
Uma tempestade tropical obrigou-nos a refugiarmo-nos em casa umas horas. Saímos um pouco antes das 17h em direção à Feria de Artesanía. Àquela hora, parecia que todas as vias da cidade confluíam no Callejón de Peña. Várias bancas expunham o melhor do artesanato local. Com algum regateio, conseguimos comprar os recuerdos mais originais de Cuba.
Pela calçada de Trinidad em direção à torre sineira do antigo convento de São Francisco de Assis.
Sala de jantar do Palácio Cantero.
Mercado de artesanato local.
Reservámos o último fim-de-semana das férias para usufruir de uns dias calmos à beira-mar e dar espaço ao tão ansiado hedonismo. Um suspiro carregado de sal abriu-nos os pulmões quando chegámos a Varadero.
Sol resplandecente, mar azul-turquesa, quilómetros de praia de areia finíssima, um resort de cinco estrelas, pulseirinha néon no pulso e all inclusive era tudo o que procurávamos.
Alterávamos os dias entre a praia e as diferentes piscinas e os cocktails entre mojito, cuba-libre, daiquirí, margarita…
Ficávamos sempre na praia até ao pôr-do-sol, quando a paisagem se tingia de tons alaranjados, rosas e violetas. Era irresistível.
Bandeira de Cuba na praia de Varadero.
Vista do quarto do hotel Meliá Internacional.
A praia de Varadero com a água cristalina.
Pôr-do-sol no mar das Caraíbas.
Foram dias inesquecíveis no país onde os sabores e ritmos dos escravos africanos se misturaram com a cultura com os índios nativos, onde os espanhóis impuseram o seu legado arquitetónico e modo de vida e os americanos deixaram vestígios de uma época dourada, mas obscura. Cuba é tudo isto e muito mais, ninguém fica indiferente às dicotomias que aqui se vivem.
Fizemos uma viagem no tempo donde nunca terminámos de regressar.
Esta aventura irrepetível começou na capital, Havana, e passou pela aldeia de Viñales, podes ler a primeira parte da viagem aqui.
Como chegar | How to get there
Fomos de Viñales para Cienfuegos de táxi, trocámos de carro em Havana e fizemos uma paragem num restaurante a meio do caminho. Demorámos aproximadamente cinco horas.
Ao final do dia, apanhámos um autocarro da VíAzul para Trinidad, a viagem durou 1.30h. viazul.wetransp.com/
De Trinidad para Varadero também fomos de táxi, demorámos quatro horas.
Como se deslocar | How to move around
Andámos sempre a pé pelo centro histórico das cidades. Do centro de Trinidad para a Praia de Ancón fomos de táxi.
Onde dormir | Where to sleep
Casa da Marlenis alugámos dois quartos numa casa particular no centro de Trinidad. A família vive no rés-do-chão e nós ficámos no primeiro andar. Cada quarto tem casa-de-banho privada. Os pequenos-almoços são servidos no terraço, no último andar, de onde temos uma vista privilegiada da cidade. A Marlenis preparou-nos sumo natural de goiaba, torradas, omelete com salada de abacate e fruta variada já descascada. Tem um custo adicional de 5€ por pessoa. www.airbnb.pt/rooms
Hotel Meliá Internacional em Varadero. Ficámos neste resort de cinco estrelas com acesso direto à praia. Tem uma piscina com espreguiçadeiras, vários bares e restaurantes temáticos: asiático, espanhol, italiano e mexicano. As restantes refeições eram servidas na sala de buffet. www.melia.com/pt/hoteis/cuba/varadero/
Onde comer | Where to eat
Café Paulina em Cienfuegos. Este restaurante situado numa das esquinas do Parque José Martí, homenageia a cantora Paulina Álvarez, a Imperatriz do Danzote, um estilo de música típico de Cuba. Jantámos cedo com a luz do final de tarde a entrar pelas janelas e a única opção de menu foi um caldo de carne de vaca de entrada e frango acompanhado de batata-doce frita e salada. Havia um corte de eletricidade e não era possível cozinhar mais nada.
Batá Aché Beach um restaurante na praia de Ancón, em Trinidad. Com os pés na areia e o azul profundo das Caraíbas no horizonte, este chiringuito foi ideal para a refeição no nosso dia na praia. www.instagram.com/bataachebeach
Cuba Libre em Trinidad. Jantámos uns rolls de frango e vegetais com chips de batata-doce num amplo terraço. Foi aqui que provámos canchánchara pela primeira vez.
Café Fortuna em Trinidad. Um peculiar café com as paredes revestidas com notas e moedas de vários países deixadas pelos viajantes. Fizemos aqui uma pausa durante a manhã para beber um sumo natural de goiaba e papaia.
Bistro Latin Jazz em Trinidad. Um acolhedor restaurante com um ambiente perfeito e música jazz ao vivo. www.instagram.com/bistrolatinjazz/
O que visitar | What to visit
Em Cienfuegos
Conhecida como "La Perla del Sur", é a única cidade na América Latina fundada por franceses do Louisiana sob a coroa espanhola, denominava-se Fernandina de Jagua, em honra do monarca espanhol Fernando VII e dos aborígenes que habitavam esta zona. Em 1829, é rebatizada de Cienfuegos em homenagem ao militar espanhol José María Cienfuegos Jovellanos, capitão geral de Cuba. Foi declarada Património da Humanidade da UNESCO em 2005.
Calle San Fernando uma rua movimentada com gelatarias, lojas e bancos de jardim que culmina no Parque José Martí.
Parque José Martí a antiga Plaza de Armas é a praça principal da cidade onde se encontra o Palácio do Governo, o Teatro Tomás Terry, o Museo Provincial, a Catedral de la Purísima Concepción e o Colégio San Lorenzo.
Museo Provincial o antigo Casino Espanhol está localizado num edifício de estilo neoclássico, com pátio interior, construído em 1893. O piso térreo era utilizado para os jogos de casino e o piso superior para bailes de gala. O espólio do museu inclui esculturas em mármore e bronze, pinturas, móveis, leques e objetos de decoração.
Paseo el Prado ou o Malecón de Cienfuegos, o passeio marítimo com imponentes vivendas viradas para o mar.
Em Trinidad
Foi fundada em 1514 por Diego Velázquez de Cuéllar. O seu nome original é Villa de la Santísima Trinidad. Integra desde 1988 a lista de Património Mundial da UNESCO.
Praia de Ancón a praia perto da cidade de Trinidad com 14 quilómetros de comprimento. É considerada uma das mais bonitas de Cuba.
Plaza Mayor a praça principal da cidade. Muitos dos majestosos edifícios que rodeia a praça pertenciam às famílias mais ricas da cidade.
Palácio Cantero ou Museo de Historia Municipal a antiga casa da família Sánchez Iznaga, descendentes de colonos espanhóis. Contempla uma impressionante coleção de móveis, cerâmica, pintura e objetos da época colonial cubana, muitos importados da Europa. A família vivia com os doze filhos no primeiro andar. Os cerca de vinte escravos que trabalhavam na casa, viviam no rés-do-chão.
Museo Nacional de la Lucha contra Bandidos este museu ilustra, através de fotografias, mapas e armas, os acontecimentos posteriores à Revolução de 1959 quando o Governo de Fidel combateu os contrarrevolucionários apoiados pelos Estados Unidos da América durante a década de 60. Está instalado no antigo convento e igreja de São Francisco de Assis, fundado no século XVIII. É possível subir torre sineira de trinta metros de altura que oferece uma vista panorâmica de 360º sobre a cidade. Preço: 30 CUP.
Em Varadero
Localiza-se na Província de Matanzas. Graças às praias de areia branca e água cristalina é um popular destino turístico. Tem uma vasta oferta hoteleira e opções de diversão noturna.
Onde comprar | Where to shop
Feria de Artesanía em Trinidad. Todos os dias até às 17h, há um mercado com banquinhas de artesãos com artigos muito originais: desde os ímanes para o frigorífico, passando pelas tacinhas de canchánchara em barro, utensílios de cozinha em madeira ou retratos coloridos de mulheres cubanas.
Onde sair | Where to go out
Casa da Música o local imperdível para apreciar os espetáculos musicais noite dentro. As várias mesas dispõem-se ao longo de uma ampla escadaria. Preço: 100 CUP.
Disco Ayala ou La Cueva encontra-se a 15 minutos a pé do centro de Trinidad. O caminho é de terra batida e pouco iluminado, mas logo se vê a entrada da discoteca que, como o nome indica, se encontra numa gruta com diferentes cavidades. Preço: 100 CUP.
Aqui está o mapa com todos os locais mencionados no post:
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