Porto, Portugal
O Porto há muito que perdeu os rótulos de cidade decadente e melancólica. Nos últimos anos, tornou-se o cenário perfeito para a criatividade e o design fluírem. Encontramos uma gastronomia vibrante em restaurantes sumptuosos, lojas de criadores nacionais, arte urbana e hotéis boutique em edifícios históricos recém restaurados.

A incerteza inicial quanto reservar ou não esta viagem era justificada, a cada dia anunciavam novos controlos nos aeroportos e noticiavam novos surtos no país, mas não me contive! Mal abriram as fronteiras, comprei os voos para viajar para o Porto com uma amiga.
Ser emigrante tem a vantagem de se disfrutar do próprio país como um turista. Sempre que tenho oportunidade, aproveito para explorar mais o meu país, mas acabo por priorizar a Guarda ou Lisboa para visitar a família ou amigos.
O Porto sempre guarda segredos que provocam a agradável sensação de querer regressar. Como já não o visitava há mais de dois anos, pareceu-me o destino ideal para iniciar a “nova normalidade”.
Calcorrear as ruas do Porto significa perder tempo (ou ganhar?) a observar os detalhes das fachadas imponentes, os azulejos coloridos, a roupa estendida a secar ao vento, os vizinhos à janela, a vida da cidade.
No primeiro dia, a minha amiga atirou as mãos à cabeça quando lhe apresentei o programa previsto, mais parecia uma “rota de igrejas” tal era a quantidade de monumentos religiosos que esperava visitar. Acalmei-a e expliquei-lhe o motivo desta pequenina obsessão: quase todas as igrejas do Porto estão revestidas pelos típicos azulejos azuis e brancos.
Estes quadradinhos de cerâmica pintados à mão formaram um importante suporte para a expressão artística nacional. Os episódios históricos e religiosos mais significativos estão representados nestas paredes, como se de uma galeria de arte ao ar livre se tratasse.
Assim, começámos pela Capela das Almas, passámos pela Igreja de São Ildefonso, detivemo-nos na Igreja de Nossa Senhora do Carmo e entrámos na Estação de São Bento, construída sob um antigo convento, contém mais de 20.000 azulejos no interior.
"Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira. A encosta cobre-se de casas, as casas desenham ruas, e, como todo o chão é granito sobre granito, cuida o viajante que está percorrendo veredas de montanha."
Viagem a Portugal, José Saramago, 1981
Descendo a encosta pelas íngremes escadas do Barredo, junto à Sé e ao Paço Episcopal, aproximámo-nos lentamente do Cais da Ribeira.
Com o burburinho agitado e a maresia chegou a hora do almoço. Escolhemos um pequeno restaurante numa ruela estreita e perpendicular ao rio.
Com a sensação reconfortante de um almoço bem servido e bem saboreado, dirigimo-nos ao Palácio da Bolsa. Fomos recebidos no Pátio das Nações por uma simpática guia, que nos levou a descobrir os detalhes mais relevantes desta magnifica construção.
Assinalou os impressionantes candelabros em bronze que pesam mais de uma tonelada e precisam da força de 5 homens para os descer sempre que é preciso trocar uma lâmpada. Mostrou-nos que a Sala das Assembleias Gerais é uma ilusão de ótica, onde o gesso imita a madeira, cobrindo todas as paredes, uma técnica mais rápida e menos dispendiosa. E terminámos com a visita ao ex-líbris do Palácio, o Salão Árabe, onde pus em prática a minha leitura desta caligrafia que me fascina.
Para alguém que vive no meio da Península Ibérica, ter praia a 20 minutos e um dia de sol significa um banho no mar e peixe grelhado no prato.
O sábado foi passado a relaxar no extenso areal da praia de Matosinhos, entre o forte de São Francisco Xavier e o moderníssimo porto de Leixões, e a mergulhar nas águas geladas do oceano Atlântico.
No último dia, decidimos ir almoçar a Vila Nova de Gaia. Descendo pelas escadas do Codeçal até à Ponte Dom Luís I, surgem miradouros que se abrem sobre a paisagem dando-nos uma sensação de pequenez perante a imensidão azul do rio Douro.
As margens do rio estavam repletas de gente que olhavam atentas para a ponte de ferro. O susto inicial de ver crianças suspensas do lado de fora, dissipou-se parcialmente ao perceber que fazia tudo parte de um “espetáculo” em que o acordo é “no money, no see”. Os meninos da Ribeira saltam 17 m de altura desde o tabuleiro inferior da ponte para a água a troco das moedas que os turistas lhes dão.
Atravessando a ponte, fomos atraídas pelas esplanadas à beira rio para um almoço descontraído de domingo. Escolhemos um restaurante com uma pequena varanda no segundo andar. Entrámos pela vista, ficámos pelo ambiente e regressaremos pelo bacalhau com broa.
Subimos colina de Gaia em direção ao Jardim do Morro a muito custo devido ao calor húmido, mas com a promessa da melhor vista sobre o Porto em mente. Infelizmente, o jardim estava fechado, no entanto, a Esplanada do Teleférico, mesmo ao lado, pareceu-nos ideal para descansar, hidratar e admirar as casinhas coloridas sob o mar de telhados vermelhos junto ao azul turquesa do rio.
Achei o Porto com bastante movimento para o que seria de esperar e isso trouxe-me algum conforto e esperança para este futuro incerto. As máscaras não impediram o trato afável dos portuenses na hora de bem receber. Queremos muito que tudo volte rapidamente à normalidade que conhecemos e gostamos. Por isso, sim, podemos viajar, mas sempre respeitando as recomendações de cada país e sendo responsáveis.
Até muito breve, Porto!
Como chegar How to get there
Fui de avião para o Porto desde Madrid. O aeroporto Francisco Sá Carneiro fica a 20 minutos do centro da cidade e tem ligações com várias cidades europeias. A viagem correu lindamente, não me senti “insegura” em nenhum momento.
Como se deslocar How to move around
Tivemos a facilidade de poder caminhar para todo o lado a partir do nosso alojamento. Mas o Porto, assim como Lisboa, tem bastantes colinas e escadarias. Uma boa opção é andar de metro. É superficial, funciona muito bem e é fácil de usar.
Onde dormir Where to sleep
Pilot Hostel há dois anos fiquei neste hostel, perto dos Aliados. O pequeno-almoço era ótimo. http://pilothostel.com/
Casa do BebeDouro desta vez, optámos por uma casinha que encontrámos no Airbnb, perto do mercado do Bolhão. Muito moderna e bem equipada para uma curta estadia. https://bit.ly/2BKLqcA
Onde comer Where to eat
Ramada do Mar em Matosinhos, a recomendação do meu colega não desiludiu. Pescada fresca para duas pessoas, vinho branco bem gelado e tarte de lima de sobremesa, numa esplanada perto da praia. https://www.facebook.com/ramadadomarrestaurante
Adega de São Nicolau numa ruela estreita da Ribeira, este restaurante em forma de barrica tem um ambiente acolhedor. A sinceridade da empregada de mesa sobre as proporções dos pratos, levou-nos a pedir só uma dose de filetes de polvo com arroz do mesmo. Chegou perfeitamente para as duas. https://www.facebook.com/AdegaSNicolau/
Rabelos em Vila Nova de Gaia, podem optar pela esplanada ou pelo balcão no segundo andar. O bacalhau com broa é a especialidade. Os empregados de mesa sugeriram que, para a próxima vez, ligássemos e eles reservavam-nos uma mesa junto à janela com vista para o rio. https://restauranterabelos.pt/
O que visitar What to visit
Palácio da Bolsa a sede da Associação Comercial do Porto é paragem obrigatória. Começou a ser contruído em 1842, sob as ruínas do antigo convento de São Francisco. Aqui, os comerciantes da cidade discutiam os preços que iriam aplicar aos produtos. O Salão Árabe, inspirado no Palácio de Alhambra, servia de sala de receção para impressionar os possíveis investidores. Atualmente, o Palácio acolhe os atos oficiais do Estado e os mais variados eventos. A visita é guiada e é necessário reservar. Aberto até às 18.30h. Preço: 11€. https://palaciodabolsa.com/
Torre de los Clérigos a torre da igreja dos Clérigos é visível de quase todos os pontos da cidade. Vale a pena subir os 240 degraus, do alto dos seus 75m de altura temos uma perspetiva diferente da arquitetura, das cores e da luz da cidade. Aberta até às 19h. Preço: 6€. http://www.torredosclerigos.pt/pt/
Cave Cockburn’s emergimos no universo do vinho do Porto com esta visita guiada à cave Cockburn’s, uma das maiores em Vila Nova de Gaia. Contaram-nos a história da importância do vinho do Porto para o desenvolvimento da região e um pouco do processo de produção, fermentação e armazenamento do mais famoso vinho do mundo. No final, degustámos os vários tipos de vinho e pusemos à prova os conhecimentos recém-adquiridos. Não fiz esta visita desta vez, neste momento, as visitas à cave ainda estão encerradas ao público, mas reabrirão em breve e é uma experiência que tem de fazer parte do vosso roteiro. https://www.cockburns.com/home.php
Praia de Matosinhos nós escolhemos esta praia pela proximidade e facilidade de acesso, fica a 20m de carro do Porto.
Onde sair Where to go out
Rua das Galerias de Paris há dois anos passei aqui umas noites muito divertidas alternando entre os seus bares e discotecas. Infelizmente, durante esta visita muitos dos bares estavam fechados e a rua bastante deserta. Mas tenho a certeza que voltará a ser um local indispensável da noite da invicta num futuro próximo.
Esplanada do Teleférico em Vila Nova de Gaia. Cocktails, boa música e uma vista deslumbrante sobre toda a cidade do Porto. Demorámo-nos aqui a beber um Porto Tónico. http://www.esplanada.pt/
Sandeman optámos por esta ampla esplanada no cais de Gaia para beber um copo de vinho do Porto, a escolha entre um Tawny ou um Ruby foi mais difícil, pedimos um de cada e partilhámos. https://www.sandeman.com/
Onde comprar Where to shop
Livraria Lello e Irmão o sonho de qualquer bibliofílico. Esta livraria, inaugurada em 1906, é uma das mais belas do mundo e, por isso, atrai a curiosidade de muitos. Para evitar a massificação de visitantes, cobram 5€ de entrada que são dedutíveis na compra de um livro. Agora, limitam a entrada a 22 pessoas de cada vez e a visita é de meia hora. Aberta até às 19h. https://www.livrarialello.pt/pt-pt/

Aqui está o mapa com todos os locais mencionados no post: